24 de nov. de 2009

Retrospectiva - o lugar mais distante e colorido

A viagem a Kashgar e ao Lago Karakul, na província de Xinjiang, no meio deste ano, rendeu as melhores histórias, as melhores cores e as melhores fotos. Ainda volto para falar do lugar, mas como o negócio aqui é matar a saudade com imagens e eu escondi o jogo e nao mostrei nadica até agora...

21 de nov. de 2009

Retrospectiva 2007, 2008 e 2009 - Parte III

A importância de Confúcio (que por aqui se chama 孔子 - kongzi) na história da China e da Ásia é inegável. O confucionismo ainda é aplicado, mesmo com todas as tentativas do governo, principalmente durante a Revolução Cultural, de mudar esta situação.
  
Fui à Qufu (曲阜), cidade natal do filósofo, em outubro de 2008. As marcas das tentativas de erradicar o confucionismo ainda estão presentes na cidade. No templo de Confúcio é possível ver muitas estelas (grandes placas onde os ensinamentos eram registrados) quebradas, reconstituídas ou faltando pedaços. A mansão da família Kong (Confúcio mesmo era muito pobre, mas após a sua morte a família enriqueceu, virou nobre e dona da cidade) também traz marcas da depredação iniciada durante a Revolução Cultural (1966-1976). 

Falando de família, a história da família Kong, em si, é interessantíssima, da maneira como tomaram conta daquela cidade, não permitindo, até mesmo, a construção da linha ferroviária para que não fossem perturbados por visitantes e turistas, à queda durante a Revolução Cultural, com toda a linhagem direta fugindo para Taiwan, onde permanecem até hoje. Entretanto, todo mundo - do varredor de loja ao dono de hotel - alega ser parente do talvez mais importante filósofo chinês. Dizem que até rola teste de DNA para comprovar. 

14 de nov. de 2009

Um ensaio em branco

Beijing, 12 de novembro de 2009.
Gosto muito mais dos dias brancos do que dos cinzas. Por que será?

Retrospectiva 2007, 2008 e 2009 - Parte II

Na segunda parte da retrospectiva, vai ai uma pitada de Cidade Proibida.

Fui lá no final de dezembro de 2007, quando ainda era recém-chegada na cidade e ainda tentava me adaptar ao frio de renguear cusco.
Escrevi sobre a antiga morada dos imperadores aqui, dá uma olhada:
http://comendodepalitinho.blogspot.com/2008/07/passeando-por-aqui-cidade-proibida.html
http://janajan.blogspot.com/2008/02/uma-cidade-aberta-todos.html

Foi nessa visita que me apaixonei por telhados chineses e passei a fotografá-los em todos os cantos por onde passei. Gosto do uso das cores, da lógica dos animais protetores e de ver a importância do prédio de acordo com este número. Bacana, né?

13 de nov. de 2009

Retrospectiva 2007, 2008 e 2009 - Parte I

Agora falta pouquinho para voltar ao pago. Nos últimos dias tenho passado pelas mesmas ruas onde sempre passei nestes dois anos e posso jurar que elas estão com um ar diferente, um quê a mais. Nostalgia pura e antecipada.
Nada melhor que fotos para alimentar essa nostalgiazinha. E como todo mundo que frequenta esse humilde bloguinho sabe, eu adoro fotografia, mesmo sendo uma fotógrafa amadora medíocre. Espero que vocês curtam tanto quanto eu curti os últimos dois anos da minha vida.

Essa foto aí foi tirada na chegada, dia primeiro de dezembro de 2007, lá no No Name, um restaurante de comida de Yunnan (云南), província do sul da China, que fica em um hutong (胡同) no lago Houhai (后海). 
Nesse tempo eu não sabia nada disso. Me disseram, inclusive, que era um restaurante vietnamita no dia e eu comprei a ideia. Yunnan faz divisa com o Vietnã, o que faz com que várias características entre as duas cozinhas sejam as mesmas, mas o restaurante que eu fui é chinês mesmo. 
Essa província lá do sul é uma das que tem a cozinha mais rica, já que conta com uma população com muitas minorias étnicas. Tem uns pratos mais apimentadinhos, eles usam muito cogumelo e, o que eu acho mais fofo, muitas flores na comida. Um dos pratos mais famosos, e que eu comi nesse dia, é o Boluo fan 菠萝饭, que nada mais é que arroz preparado dentro do abacaxi. Muitíssimo gostoso!

Ah, na foto, pessoas especiais que ajudaram muito nesta vida chinesa.

9 de nov. de 2009

Cuidado quando carregar seu amigo bebum para casa

Guri 1: Bah, que bebedeira!
Guri 2: Nossa! Vambora?
Guri 1: Vamos, vamos. Vambora, Guri3?
Guri 3: ...
Guri 2: Eita, bebum! Que jeito, né? Vamos carregar o guri pra casa.

Chegando na porta do apartamento do Guri 3...

Guri 1:Tu tens a chave, né?
Guri 3: A...han...
Guri 2: Tá, agora tu consegues entrar, neh?
Guri 3: A...han...
Guri: Beleza, então. Zai Jian!

Na manhã seguinte, em vez de estar com uma puta ressaca, o Guri 3 estava morto.

Os outros garotos, os dois com vinte e poucos anos, estão sendo processados por homicídio. O caro leitor deve estar se perguntando: mas que cazzo aconteceu com ele?
Foi o seguinte: os amigos deixaram o bebum passado número 3 na porta de casa em uma noite fria, com temperatura negativa, e não se certificaram de que ele estava seguro (e nesse caso, aquecido) dentro de casa. Contaram com o pouco de noção que eles achavam que o amigo tinha e foram embora. O problema é que o guri número 3 não abriu a porta, não entrou dentro de casa, e a temperatura muito baixa causou a morte por hipotermia. Segundo as leis da China, os outros dois foram os responsáveis.

Olha, já carreguei muita gente para casa, mas raramente coloquei dentro de casa. Este é um risco que não se corre com amigo bebum em país tropical. O perigo é ser assaltado na frente do condomínio, na frente do prédio, mas nunca ouvi falar, nem nas bandas da serra gaúcha no inverno, de ninguém que tenha morrido assim, de frio, por passar algumas horas sem entrar dentro de casa. E eu confesso, fiquei morrendo de pena dos outros dois guris. Além de terem perdido um amigo, ainda correm o risco de passar o resto da vida presos (porque nesse caso acho - ACHO - que não rola pena de morte). Que coisa, né?

2 de nov. de 2009

Fizeram nevar no sertão

Aqui em Beijing faz frio. Muito. Daqueles de renguear cusco e empedrar água de poço. O inverno é longo, sofrido e seco. Muito seco. Então que a gente passa uns quatro meses, pelo menos, abaixo de zero (ou por ali) e a única coisa que vê é o pote de hidrante depois do banho, já que uns dois dias sem hidratação extra a pele começa a parecer, praticamente, com uma ilustração do que é o sertão nordestino.

A culpa disso é um certo deserto (http://pt.wikipedia.org/wiki/Deserto_de_Gobi), dizem, que não só influencia no clima seco, mas traz também as terríveis tempestades de areia da primavera pequinense.

A chuva que não cai, não é problema**. O governo tem sua equipe de xamãs de plantão e uma indiada que passa o dia fazendo a dança da chuva. Afinal, todo mundo sabe que aqui o governo faz chover. Dizem que os xamãs e pajés, que tem um departamento só para eles - Escritório de Modificação do Tempo de Pequim - andam mais tecnológicos, usando umas tais bombas de iodeto de sódio nas nuvens para sacudir os deuses e fazer chover no sertão. Adoro a modernidade.

E foi isso que aconteceu neste final de semana. Eu não sabia, mas o povo se puxou chamando chuva de tanga na rua até que ela veio. Com todo o frio e a temperatura negativa, a chuva logo virou neve. Nevasca, como eu nunca vi em Beijing nos últimos dois anos. Na realidade, como eu nunca vi na vida, pois nem em Harbin no ano passado eu vi tanta neve caindo e com aquela intensidade. O governo estima que pelo menos 16 milhões de toneladas de neve caíram sobre a cidade e parece que a quantidade de sorrisos foi proporcional.

Sim, a chuva e a neve foram gerados artificialmente. O problema é que teve um povo que parece que não entendeu bem e achou que a neve fosse cenográfica, feita de isopor ou coisa que o valha. Não, gente amiga, era água que caia do céu e congelava no meio do caminho - ou quase isso. Não tinha ninguém dando mangueirada ou neve feita de algodão e isopor. Era de verdade. 

Eu como ando toda boba, tenho certeza que o povo sabe que eu tou me despedindo, por isso resolveram me dar esse presente: uniram o útil ao agradável para que eu me despedisse da neve antes de encarar o calor úmido do verão porto-alegrense de novo. Como eu não moro (nem aí nem na China) em lugar que neva muito não dá tempo de odiar e chamar de "merda branca". Fico bobinha, como todo mundo que eu conheço por aqui, gente original ou não de países tropicais. Adouro. Mesmo.

Por problemas de ordem técnica e tecnológica, as minhas fotinhos foram pro espaço, mas deixo vocês com as dos coleguinhas. A que abre este post é do blog Picassina (http://picassina.blogspot.com/2009/11/nieva-en-pekin.html). Se quiser mais, clica ali:


Vou sentir falta de Beijing. Vou sentir falta de neve. Mas juro, não vou sentir nenhuma falta de seis meses de inverno. 

** Eu sei que é um problema e o povo continua sofrendo com a falta de chuva.As regiões norte e leste do país tão sendo bem castigadas pela seca. Só na província de Fujian, no leste do país, quase 200 mil pessoas foram afetadas pela seca, além de 81,2 mil hectares de terra. A diferença é que aqui ainda dá pra fazer chover.