3 de set. de 2009

Aquele com a chinesinha black power*

Eu vi em um, dois, três, quatro diferentes blogs de chineses que escrevem em inglês a mesma história. O povo está comentando e não é para menos.
 
Racismo é repulsivo. Mas está aí, para todo mundo ver em todos os lugares do nosso caríssimo planetinha. Claro que aqui não seria diferente. Às vésperas do aniversário de 60 anos de fundação da República Popular da China, preconceitos raciais continuam existindo aos montes. Não estou nem querendo, ao menos não agora, entrar no mérito da veriedade étnica do país e a padronização, ou hanização e harmonização como li em algum lugar dia desses, de tudo. Falo de um outro, muito familiar para nós brasileiros: preconceito contra negros e mulheres.

Lou Jing (娄婧) resolveu participar de um reality show daqui chamado 加油!东方天使 (jia you! dong fang tian shi, algo como "vamos lá anjos orientais") e contou sua história de vida. Nada de mais, não fosse pela cor da sua pele. Lou é fruto do relacionamento extraconjugal da mãe, chinesa, com um americano afrodescendente. Depois do nascimento da menina, o casamento acabou em divórcio e a mãe criou a filha mestiça sozinha, fazendo o melhor que podia como mãe. Lindo, né?

Não foi o que o povo aqui achou. Logo depois de ir ao ar na tv, a história se espalhou na internet, junto com as ofensas contra as duas: uma por ser chinesa com pele negra e a outra por ser adúltera.

Conforme Lou Jing avançava na competição, os insultos cresceram na internet em progressão geométrica contra ela. Uma postagem em um fórum de discussão foi inclusive apagada no dia 10 de agosto, que levantava a hipótese da chinesinha negra ser filha do presidente americano, Barack Obama. Claro, suficiente para mais piadas e mais ofensas pessoais. Alguns tópicos chegaram a alcançar rapidamente mais de 100 mil visualizações e milhares de respostas, grande parte delas ignorantes e ofensivas.

Já vi e ouvi falar muito de racismo contra negros aqui na China. O agravante deste caso, para os chineses, é o fato de Lou Jing ser também chinesa (como assim nós somos iguais???). Que tipo de orgulho amarelo é esse que permite que uma menina inocente seja agredida desta maneira? Contra a mãe da menina ainda mais, porque não é apenas a questão da traição, mas a traição com um negro e depois viver divorciada, o que por essas bandas ainda é uma grande vergonha.

Sério, vê se não é beeeeeeeem chinesinha: http://v.youku.com/v_show/id_XMTE1MDc5NDI4.html (sinceramente, o preconceito deveria ser contra essas músicas, pelamordedeus)

Apesar de ter tido alguns progressos, o preconceito aqui existe e é bem forte. Já ouvi casos de bares que proibiram a entrada de negros, ou dono de bar contando que quando um negro entra ele fica de olho, pois eles são sempre problema. Com as mulheres, a mesma coisa. Apesar de, devagarinho, crescer em igualdade e galgar postos antes só ocupados por homens, a mulher continua não sendo valorizada como deve. Também já vi histórias bizarras, como o chefe repreender uma funcionária para o marido, para que ele conversasse com ela a respeito das falhas no trabalho. Por que ele não se referiu diretamente à funcionária? A situação sinaliza bem o traço machista desta sociedade.

Se for parar para pensar, a situação já foi muito pior, claro. Mas para um país que se vangloria das conquistas, da abertura econômica que preserva uma cultura comunista (sic) de igualdade e, politicamente, das ótimas relações bilaterais com todos os países do mundo, que investem aqui e levam investimentos daqui, está mais do que na hora de dar uma evoluída. Se bem que se para mudar a cabeça de uma pessoa já é difícil, imagina de 1,3 bilhão. É, certas coisas ainda vão demorar bem mais que 60 anos para mudar. 

*A fórmula Marta Kauffman para títulos aplicada no Comendo de Palitinho. Hoje ficou difícil pensar em alguma coisa melhor.

2 comentários:

  1. olá Paula
    cheguei no seu blog depois de ter ouvido o Sushicast, Made in China, achei muito legal seu papo lá, quem sabe vc faz um podcast da china também rs , algo como "Coruja Xadrez" ;)
    Mas agora falando um pouquinho mais sério , escolhi esse post pra escrever porque ele me deixou bem triste, um povo de cultura tão antiga e que eu imaginava evoluída com um comportamento assim.
    vou tentar voltar sempre
    abraços da bahia pra você

    NIL

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  2. Interessante, muda o país mas não se mudam os preconceitos das pessoas. Eu sou branco, mas não tenho nenhum tipo de preconceito, seja racial, cultural ou religioso.
    Todos somos seres humanos, vivemos no planeta terra e devemos estar sempre em harmonia.
    Conheci vocês através do Podcast Sushicast , no episódio Made in China, no qual a Coruja foi entrevistada... Parabéns pelo blog, gostei muito da abordagem da cultura e o dia-a-dia da China.
    Visite o meu blog também e me siga no twitter.

    Abraços

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