28 de out. de 2009

A eterna poluição

Estava conversando hoje com o meu amigo Luciano Stabel (www.stabel.fot.br), fotógrafo talentoso e amigo querido, sobre o um post publicado num blog em inglês que fala sobre a China. "Amazing Pictures, Pollution in China" (http://feedproxy.google.com/~r/ChinaHush/~3/7agDqjRRsQ8/) era o post e além de elogiar o trabalho do fotógrafo, que é ótimo mesmo, ficou admirado com a poluição por essas bandas de cá e a coragem de publicar isto sem ser alvo do governo. Fato.

Não sei se Lu Guang (卢广), um fotógrafo frila, que começou como amador em 1980, sofre perseguições políticas. Só sei que antes de conseguir abrir seu primeiro estúdio e agência de publicidade ele trabalhou em fábricas, como operário. Também sei o trabalho dele sempre esteve focado em problemas sociais da China, que acabam chamando atenção dentro e fora do gigante asiático.

Sei que o trabalho é impressionante e está na rede para quem quiser ver esta triste realidade.

Como os frequentadores do bloguinho sabem, postagem só por email, o que não me permite arrumar as fotos direito. Entonces, sigo com as legendas abaixo, de acordo com a ordem das fotos.

1. "Na junção das províncias de Ningxia e Mongólia interior, eu vi uma chaminé muito alta soltando uma fumaça dourada, que cobria o céu azul, grandes áreas de pasto se tornaram locais onde as indústrias despejam o lixo; um cheiro insuportável de lixo faz as pessoas tossirem. Surge um esgoto industrial que corre para o Rio Amarelo…"
- Lu Guang

2. Lixo químico do distrito industrial Jiangsu Taixing Chemical (江苏泰兴化工园区) jogado no topo do Rio Yangtze. Maio de 2009

3. Esgoto das indústrias de aço e ferro da Henan Anyang (河南安阳钢铁厂) corre para o Rio Anyang. Março de 2008

4. Pastor na margem do Rio Amarelo, ele não consegue aguentar o cheiro. Abril de 2006

5. Este adolescente de 15 anos da cidade de Tianshui, na província de Gansu (甘肃天水), largou a escola quando estava na segunda série, seguindo seus pais para o distrito industrial de Heilonggui (黑龙贵) Industrial District. Ele ganha 16 yuans por dia, o equivalente a R$ 4. Abril de 2005

6. O mais velho tem 9 anos e não vai à escola. O mais novo tem menos de dois anos de idade. Eles vivem em uma área extremamente poluída. A sujeira no rosto e nas mãos nunca sai.  Abril de 2005

Seul - a primeira olhadinha

Bem, por onde começar: Acho que o começo é sempre uma boa ideia.

Para quem está em Beijing, Seul é ali do lado. O voo leva menos tempo do que ir a Shanghai, por exemplo (10 minutos a menos). O desgaste da viagem fica por conta dos deslocamentos para chegar aos aeroportos de Beijing e Incheon e de lá para o centro de Seul. Além disso, é necessário estar duas horas antes do voo no aeroporto em caso de voo internacional. Não interessa se é mais rápido ir a Seul do que a Chengdu, passou a fronteira, tem que chegar antes. Para vocês terem uma ideia gastamos uma hora da nossa casa até o aeroporto, mais duas horas de espera no aeroporto, mais 1h20 de voo, mais quase duas horas de metro de Incheon até o albergue. A viagem aparentemente de 1h20 levou na prática quase 6h30. Não que isso seja um problema, de maneira alguma. São as regras e quem quer viajar passa por elas.

Descendo no Aeroporto de Incheon fiquei impressionada com como estava vazio. Com isso veio a dúvida se estávamos fazendo o caminho certo para ir pegar o metrô. Sério, não havia ninguém. De repente nos deparamos com uma máquina, que expede os cartões, que varia de preço de acordo com a distância da viagem a ser feita, e um mapa da rede local. Dá uma olhadinha na foto e vê se não é de dar uma gelada. O negócio é parar e começar a ler com calma. Nisso veio a primeira boa surpresa de Seul.

Um funcionário do aeroporto chegou para nos resgatar. Foi lá e perguntou onde queríamos ir e fez a máquina cuspir nossos cartões. Ele apontou onde pegar o metrô, mas com aquele monte de linhas (algumas estações com quatro diferentes e tudo escrito bem miudinho no mapa) achamos que era prudente dar uma última perguntada para que lado deveríamos ir. Nisso um coreano, que vendo o nosso desespero por não saber falar o idioma, e o inglês precaríssimo do atendente, interveio. Ele se prontificou a nos ajudar, disse que estava indo para a mesma linha que deveríamos pegar e que nos orientaria. Maravilha. Muito gentil, muito educadinho.

Nosso primeiro amigo coreano se chama Chris. Na realidade, o nome mesmo dele a gente não entendeu e não lembra, mas o nome em inglês é facinho de lembrar. Ele contou que mora na China há alguns anos, em Chongqing, uma das cidades chinesas com status de província que fica perto da província de Sichuan (aquela atingida pelo terremoto no ano passado). Ele contou que estava vindo a passeio encontrar a família e que de chegada já notou que Seul está diferente, cresceu. 

Foi o Chris que nos deu as primeiras dicas sobre como são os coreanos, como eles comportam. "Você notou que só nós aqui dentro do trem estamos falando e rindo alto? (juro que eu nao tava achando nada alto)  Aqui é assim, o povo é muito silencioso no espaço público. Apenas quando bebem demais que os coreanos ficam mais sonoros". E era verdade. Todo mundo no trem estava em silêncio. A maioria prestando atenção em programas de tv que podiam ser assistidos pelo celular, outros com computador, alguns simplesmente ouvindo música (que eles não nos forçavam a ouvir como acontece algumas vezes aqui na China e aí no Brasil). Ninguém parecia ter pressa, ninguém cortava a frente de ninguém. De certo isso é o que chamam de "zen", conceito que até então na China eu achava que era piada e que, na realidade, o povo era meio "zen noção".

 As duas horas de viagem (no fim já estávamos podres e emputecidas por conhecer, até então, o aeroporto e o metrô de Seul) serviram para bater papo, saber mais da cidade e da história do nosso melhor amigo coreano preferido. O pai do nosso amigo é, na realidade, norte-coreano, que veio para sul durante a Guerra da Coreia. Ele contou como é triste para o pai dele ter a família separada, ter parentes "trancados" no que um dia foi o mesmo país. Hoje, contou o Chris, não tem mais ninguém da família por lá. Os que restaram se foram com o tempo, mas ele confessou se emocionar ao ver cenas de irmãos que não se viam há 50 anos chorando e se abrançando na fronteira, aquela linha amarela que divide duas realidades completamente diferentes. 

Sair do metrô foi um grande alívio. Sério, ninguém merece. Na saída veio aquele frio na barriga que dá quando conhecemos um lugar completamente novo, onde somos, novamente, completamente analfabetos. Foi nesse momento "mais perdidas que bolacha em boca de velho" que fomos agraciadas com mais gentileza. Paramos para perguntar para que lado ir. Por uma dessas coincidências, o coreano falava inglês. Como bom cavalheiro (que agora eu acredito, são todos os coreanos) foi conosco até o endereço correto, mesmo sabendo que não havia perigo nenhum em três moças andarem na rua sozinhas depois da meia-noite.

Depois de achar tudo foi só correr para o abraço e tomar a primeira Cass (http://www.cass.co.kr/), cervejinha coreana bem honesta. Nisso vieram outras boas primeiras impressões: a cidade é cheia de bares e restaurantes que ficam abertos até, pelo menos, quatro da manhã, os cardápios não surgem em inglês, mas o povo tem paciência para tentar entender o que a gente quer, que em lugares de cerveja barata o preço fica em torno dos R$ 6, meio na média para bares brasileiros, mas bem caro em botecos chineses, as ruas são limpas, andar na rua, não importa o horário, sempre vai ser uma experiência segura e tranquila e que os coreanos tem tino para trocadilhos, para felicidade da Jana Jan (ver a rede de lojas de conveniência "Buy the Way" rendeu boas risadas).

Quer mais?

27 de out. de 2009

Uma amostrinha de Seul

Um gostinho, em fotos, de Seul.
É só um gostinho mesmo, já que eu fiquei bem pouquinho por lá. Tempo suficiente para saber que sim, vale a pena voltar e explorar um pouco mais o local onde metade da Coreia do Sul mora.
Bateu a curiosidade?

15 de out. de 2009

RIP

Mais um bloqueio. 
Querido Vimeo (http://www.vimeo.com), nos vemos numa outra vida.
:(

14 de out. de 2009

A paradinha inha inha

Perdi muito da vontade de falar sobre a parada militar do dia 1 de outubro e a grande celebração dos 60 anos da China. Até comecei dois textos, mas não terminei nenhum. Guardei várias coisas para mostrar e acabei não postando nada. Putz, fica tão feio quando a gente publica por email... Um deles talvez ainda venha a aparecer por este blog, quem sabe? Falando sério: achei um pé no saco. Todo o trânsito trancado, ter que desviar todo o meu caminho pra vir trabalhar e ainda ter o acesso barrado em algumas esquinas (fora toda a mão que foi durante os ensaios) pra ver o Hu Jintao gritando "tongzhimen hao" parecendo um boneco congelado com aquele cabelinho playmobil: Ai, me poupe. 

Reza a lenda que os privilegiados foram aqueles que assistiram a tudo de casa, já que de lá mesmo só havia o calor, o colorido e nenhuma manifestação popular. Ainda mais: no dia do discurso mais importante do presidente da China desde que ele assumiu, o sistema de som falhou na praça. Claro, isso não foi mostrado na CCTV (televisão estatal). Momento destaque só para a cara de tarado bobão do presidente quando os batalhões femininos passaram de pernocas de fora. Se ele já estava daquele jeito por alguns centímetros de pernas a mostra, imagina como não vai ficar quando estiver no Rio em 2016, hein?

Tudo bem, teve lá seus momentos bonitos. Por isso mesmo que tou passando pra vocês (cliquem mesmo, não se acanhem), o link da imagem em 360 graus que a Xinhua, agência oficial do governo, disponibilizou. Isso sim, bem legal. Até porque eles foram os únicos a poder fotografar de janelas, já que o resto tava lacrado. Mimimis à parte, tá muito legal mesmo e se vê muito além da parada:

Tudo bem que eu falei que dizem que foi melhor assistir pela tevê. Mas garanto que melhor ainda é assistir esse vídeo aqui de Dan Chung, que usa e abusa do slowmotion e "timelapse", com um efeito bacaníssimo (não tem como não achar legal). Não faz fita e clica lá:

E quem tiver tempo pode dar uma conferidinha nos links abaixo e ver o que se passou por aqui.
 
O jornal China Daily, publicação diária em inglês, traz uma série de vídeos e slides interessantes sobre a data

A parada militar de 1949:

A Data Nacional, em 1950:

Os "gloriosos" 60 anos:

A revista às tropas em 2009:

O início da cerimônia:

The Big Picture - melhor blog de fotos, na minha humilde opinião

Mais fotos no site da Xinhua, agência de notícias do governo chinês:

Tres decadas de tanques em Tian'anmen: 1989, 1999 e 2009

A foto que ilustra o post é da primeira parada militar, dia 01 de outubro de 1949, quando durava mais tempo e a inspeção das tropas era feita por Mao Zedong, que desfilava em jeep "aberto"

13 de out. de 2009

Agacha aí!

Os banheiros aqui na China sempre acabam, de um jeito ou de outro, surgindo entre as conversas que nós expatriados moradores do gigante asiático temos com nossos conterrâneos e com os recém-chegados à terra de Mao. Sim, eu já tava sabendo que seria necessário um longo processo de adaptação aos banheiros quando cheguei por aqui. No fim das contas, se revelou menos horrível do que eu pensava.

Se levar em conta o fator higiene, os banheiros são ótimos, principalmente os públicos, já que nenhuma parte do corpo da criatura entrará em contato com o vaso sanitário e a descarga. Há quem levante o problema da falta de prática para acabar com a grande utilidade sanitária do vaso no chão: quem não está bem acostumado acaba fazendo xixi no pé muitíssimas vezes. Arghssss!!!!

O que eu tive que descobrir, de maneiras nem sempre ortodoxas, é que se não pode com eles, junte-se a eles. Fazer xixi acaba se tornando comum, porque é impossível segurar um dia inteiro (ou uma noite regada a cervejinhas) até chegar em casa. Mas e o famoso número 2 como é que fica? Queridos, a oportunidade faz o ladrão. Deixando o nojinho de lado, com o tempo é possível achar bem confortável fazer as necessidades assim, de cócoras. Segundo os médicos é até melhor, pois respeita a anatomia do corpo humano. Tudo bem, não precisa gostar, mas não leve tudo como se fosse um tipo de tortura. Agacha. Mira. Faz. Limpa. Sem sofrimento.

Uma amiga, na época recém-chegada, estava feliz e encantada com Beijing, curtindo de tudo um pouco. Comentou que, inclusive, já tinha se adaptado aos banheiros, dizendo não tinha mistério. "Que rápido e que bom. Adoro quem não sofre com trivialidades", comentei. Grande engano. Numa dessas saídas da vida, a bexiga começou a avisar que era hora de visitar o 厕所 (cesuo, banheiro). Fomos as duas até o mais próximo. Era um daqueles bem tosquinhos, sem divisão entre as privadas no chão. Tirei a minha calça e fiquei lá de cócoras, cotovelos apoiados no joelho esperando o grande momento. Minha amiga veio para a privada ao lado da minha, baixou a calça e só dobrou o corpo pra frente, deixando as pernas completamente estendidas. "Guria, o que tu pensa que tá fazendo??", gritei na hora, antes que eu começasse a tomar um banho com o xixi alheio. "Não é assim que faz??". "Claro que não" "Ah, mas eu não sei abaixar". Bom, não quis saber onde ela aprendeu a fazer tiro ao alvo com xixi. 

Falando em banheiro público, por aqui eles podem ser bem difíceis. Para mim é a materialização da falta de consciência entre o público e o privado do povo chinês. Para começar, banheiro em casa é coisa de poucas décadas e em algumas áreas o banheiro da vizinhança ainda é coletivo. Não é difícil, quando se está perto de algum hutong (http://en.wikipedia.org/wiki/Hutong) ver o pessoal de pijama na rua indo no banheiro, enquanto você está passando para ir a um restaurante. Uma outra amigona conta sempre uma história que ilustra bem esta distorção entre os conceitos ocidental e chinês de público e privado. Um belo dia ela entrou no banheiro e lá estavam duas senhoras de pijamão: uma na porta, jogando conversa fora, e a outra de cócoras, mandando ver no número dois. O banheiro não tinha divisórias e enquanto uma delas fazia uma força para largar um barro (sim, com todos os efeitos sonoros possíveis incluídos), as duas ficavam ali, de pijamão trovando no banheiro público. Minha amiga se virou, voltou para onde estava e profetizou: "Tudo bem que eu não quero voltar para o Brasil, mas nem em 30 anos morando aqui vou me acostumar com isso". O que para nós é desagradável, uma invasão sem medida de privacidade, para eles é simplesmente normal.

Agora, este tipo de banheiro não é privilégio da China e outros países da Ásia. Sim, isso é banheiro turco (http://en.wikipedia.org/wiki/Squat_toilet), ou grego, e até na Itália tive que me agachar para fazer xixi em um restaurante bem bacana. Isso mesmo, o Velho Mundo ainda tem banheiro no chão. Ainda lembro a minha cara de surpresa quando abri a porta do banheiro e tive que olhar pro chão para achar o sanitário. Uma italiana viu minha cara de espanto e tascou: "Banheiro turco. Bem comum por aqui". Eu hein....
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A foto que ilustra este post foi surrupiada do Sinosplice.com. É uma placa de banheiro publico aqui de Beijing, uma das mais inteligentes e menos vexatórias para indicar o tipo de vaso sanitário que eu já vi por essas bandas.



8 de out. de 2009

Que venha a erva-mate

Eu acho tão legal quando isso acontece. Quando a gente mora fora, receber visitas da pátria-mãe tem outro gosto, outra cor, outro sotaque. Mais ainda quando isso tem cheiro de casa, a visita trazendo uma poeirinha das ruas onde tu costumavas andar, ou tendo no olho ainda aquelas paisagens que te eram tão comuns e hoje são tão caras.

Sei, ando à flor da pele, ando mesmo. Por isso essa notícia de hoje me deixou faceira.

Desde o final do mês passado, 42 pessoas da minha amada cidadezita dos pagos gaúchos, Gravataí, andam aqui pela China. A gurizada veio por um ótimo motivo: dançar. O povo é lá do CTG Aldeia dos Anjos e vai passar um mês rodando este país continental para apresentar um pouco do folclore gaúcho para o povo mandarim.

Uma pena que Pequim não está incluída no roteiro da gauderiada, seria impagável assistir a um show da invernada aqui. Mesmo assim, tá beleza! O povo agora anda em Changzhou, na província de Zhejiang, e tá curtindo essa terrinha que eu adouro.

Só que com a agenda apertadíssima, achei que não daria tempo de vê-los por aqui e mostrar um pouquinho da minha China, que não é a china véia da minha terra. Achei que o pacote de erva-mate que veio de presente em uma das malas voaria de volta pro Brasil. Não mais. Acabei de ficar sabendo que eles ficarão três dias na capital chinesa, numa folguinha merecida no fim da turnê, e poderão passear comigo um pouquinho, contando histórias da terrinha e fazendo uma legítima roda gaúcha de chimarrão. Bem bom, né, tchê?


4 de out. de 2009

Eu vivo mesmo no mundo da lua

Como eu já eu cansei de falar (e vocês certamente de escutar) eu não entendo o calendário lunar. Fico mais perdida que cusco em tiroteio! Maso povo aqui segue, presta atenção e acha fundamental se orientar por ele. Claro, muitos dos chineses mais jovens também não se ligam muito e acabam se perdendo no calendário, apelando para o santo Baidu ou Google para saber quando os festivais acontecem. 

Dia desses fui perguntar a alguns colegas chineses que dia cairia o 15 dia do 8 mês do calendário lunar, dia em que é comemorado o Festival de Meio Outono, já que a agência estava nos presenteando com os tradicionais bolinhos de lua, especiais para a ocasião. Resultado: nenhum deles soube me dizer a data certa de cara e a internet foi quem ajudou a resolver a dúvida.

No fim das contas, não fico só eu perdida no mundo da lua com esse calendário chinês.

Falando em mundo da lua, ano passado escrevi um texto para o blog contando um pouco sobre o Festival de Meio Outono, os bolinhos de lua. Acho que vale a pena republicar. Ah, dessa vez sem as fotos, já que continuo publicando só por email porque o blogger está bloqueado. 


O feriado foi ontem, mas a folga pro povo vem hoje (segunda-feira).
A partir desse ano, com o desmembramento do feriadao de primeiro de maio (que passou de uma semana para tres dias), o Festival de Meio Outono, ou Festival da Lua, ganhou uma folga propria no calendario chines. O decimo quinto dia do oitavo mes do calendario lunar foi ontem, dia de se reunir com a familia para comer bolinhos de lua e contemplar a lua cheia.

E claro que a lua, com toda a sua importancia e beleza, tem uma lenda propria na tradicao chinesa. Por aqui quem mora nela nao eh Sao Jorge e o dragao, mas Chang'e, uma bela dama, e seu coelhinho. Vai saber, ateh devem dividir o territorio ou sao vizinhos de condominio. Uma das versoes da lenda diz que Chang'e era esposa de Hou Yi, um bravo arqueiro que derrubou, a flechadas, nove dos dez sois que existiam em seu tempo e prejudicavam as plantacoes. Como premio, Hou Yi ganhou um remedio que o tornava imortal, mas quem acabou bebendo a formula foi a dama, que decolou da Terra para a Lua, sem escalas. Reza a lenda que ela tem um castelo por la, onde vive com um coelho, que lhe moi ervas medicinais, e Wugang, que tem a tarefa de cortar uma arvore que se regenera todas as vezes (notaram alguma semelhanca com o cruel destino de Sisifo e sua eterna luta para rolar uma pedra de marmore ateh o cume do monte?).

Que bolinho eh esse?

Muito antes de priscas eras jah se comiam os bolinhos de lua no festival de meio outono. Se tem noticia de que o costume vem sendo seguido desde a dinastia Zhou (século XI a. C.), quando havia uma cerimonia de oferenda de sacrificios à "rainha da noite". O bolinho eh, na maioria das vezes, redondo, um simbolo de perfeicao em muitas culturas e que aqui ganha tambem o sentido de reuniao familiar.

Eles podem ser doces ou salgados e ter os mais diversos recheios: gema de ovo, coco, lotus, sementes de frutas, nozes, castanhas, presunto, carne e ateh cha verde. A tradicao eh levada tao a serio, que caixas ricamente decoradas sao vendidas com o produto.

Aqui na agencia fomos agraciados com uma belissima caixa dos famosos bolinhos. Claro, que a minha paixao por caixas bonitas fez com que eu deixasse os bolinhos na mesa e arrumasse um outro destino pra ela. O festival foi ontem e eu esqueci de comer os bolinhos. Sei la, acho que a minha cabeca se perdeu no fuso, ou no mundo da lua. Pelo menos contemplei a lua ontem, que, diga-se de passagem, anda fabulosa nos ultimos dias. 

Falando nisso...

Jah que falamos da lenda de Chang'e, lembrei de uma outra coisinha. A historia da bela dama inspirou o nome do primeiro satelite lunar chines. Ateh um desenho foi lancado pela agencia Xinhua para celebrar o fato. O nome (suuuuuupercriativo) eh "Chang'e vai para a lua" e mostra a Chang'e com seu coelhinho guiando o satelite lunar. Ficou fofo, neh?

1 de out. de 2009

Enough of Samba - Jovem Guarda

Eu brinco que vim para a China só fazer coisas que normalmente eu não faria. Nunca me passou pela cabeça dançar; aqui apareceram as Jackson Sixters pra me mostrar que era possível (longa história), nunca achei que poderia cantar e acabei cantando pra uma galera aqui da agência, com direito a flores e presentinhos depois. Essa coisa de discotecar também nunca esteve nos planos, mas aqui não só se mostrou possível, como suuperbarcana.

O povo curtiu e a gente também.

Então amanhã tá tudo mundo convidado de novo.

Jana, Fernanda e eu estaremos tocando amanhã no Obiwan de novo. Dessa vez o tema é Jovem Guarda. Bem bom, né?
Se tiver por Beijing ou perto, pinta lá. Não paga entrada, o lugar é bacana e a diversão garantida. 

Dessa vez o Google não foi tão fofo

Eu sou fã do Google e não nego. Essa semana eu já tinha gostado da capa que comemorava o aniversário do Confúcio. Com a abertura do Google China, achei que eles se renderiam à maré vermelha que virou a internet daqui. Bonitinho e discreto, assim é o logo que celebra os 60 anos de fundação da República Popular da China no Google.cn. Achei que teria algo no Google.com, mas niente.
  
Maré Vermelha? Não entendeu sobre o que eu tou falando?

Confere ainda hoje que voce vai entender rapidinho:
o site da CCTV (televisão estatal) : http://www.cctv.com/default.shtml
o da Xinhua (agência de notícias do governo): http://www.xinhuanet.com/
Sina.com (um dos principais portais): http://www.sina.com/
o do Youku (genérico chinês do Youtube): http://www.youku.com

60 anos - O que o desfile vai mostrar

Daqui a dez minutos começa o tão aguardado desfile militar para celebrar os 60 anos da Nova China. O céu pode não estar como o prometido pelo governo (alguém vai pagar por isso), mas a festa está pronta. A cidade está parada, fechada, organizada, viagiada. Nada pode dar errado. Alguém duvida?

- Este é o 14 desfile desde a fundação da República Popular da China, em 1949
- Envolverá mais de 8 mil soldados das Forças Armadas, incluindo terra, marinha, força aérea, artilharia, polícia armada, reservas do exército e milícia.
- Tudo gira em torno da harmonia: 56 blocos e formações, significando a harmonia entre os 56 grupos étnicos
- O número 60, seis décadas, marca um ciclo completo no calendário lunar
- Na onda do 60: 60 carros alegóricos serão apresentados
- 80 mil estudantes de escolas primárias e secundárias

Fotinhos dos preparativos para a festa aqui:
http://www.chinadaily.com.cn/60th/picture.html