28 de out. de 2009

Seul - a primeira olhadinha

Bem, por onde começar: Acho que o começo é sempre uma boa ideia.

Para quem está em Beijing, Seul é ali do lado. O voo leva menos tempo do que ir a Shanghai, por exemplo (10 minutos a menos). O desgaste da viagem fica por conta dos deslocamentos para chegar aos aeroportos de Beijing e Incheon e de lá para o centro de Seul. Além disso, é necessário estar duas horas antes do voo no aeroporto em caso de voo internacional. Não interessa se é mais rápido ir a Seul do que a Chengdu, passou a fronteira, tem que chegar antes. Para vocês terem uma ideia gastamos uma hora da nossa casa até o aeroporto, mais duas horas de espera no aeroporto, mais 1h20 de voo, mais quase duas horas de metro de Incheon até o albergue. A viagem aparentemente de 1h20 levou na prática quase 6h30. Não que isso seja um problema, de maneira alguma. São as regras e quem quer viajar passa por elas.

Descendo no Aeroporto de Incheon fiquei impressionada com como estava vazio. Com isso veio a dúvida se estávamos fazendo o caminho certo para ir pegar o metrô. Sério, não havia ninguém. De repente nos deparamos com uma máquina, que expede os cartões, que varia de preço de acordo com a distância da viagem a ser feita, e um mapa da rede local. Dá uma olhadinha na foto e vê se não é de dar uma gelada. O negócio é parar e começar a ler com calma. Nisso veio a primeira boa surpresa de Seul.

Um funcionário do aeroporto chegou para nos resgatar. Foi lá e perguntou onde queríamos ir e fez a máquina cuspir nossos cartões. Ele apontou onde pegar o metrô, mas com aquele monte de linhas (algumas estações com quatro diferentes e tudo escrito bem miudinho no mapa) achamos que era prudente dar uma última perguntada para que lado deveríamos ir. Nisso um coreano, que vendo o nosso desespero por não saber falar o idioma, e o inglês precaríssimo do atendente, interveio. Ele se prontificou a nos ajudar, disse que estava indo para a mesma linha que deveríamos pegar e que nos orientaria. Maravilha. Muito gentil, muito educadinho.

Nosso primeiro amigo coreano se chama Chris. Na realidade, o nome mesmo dele a gente não entendeu e não lembra, mas o nome em inglês é facinho de lembrar. Ele contou que mora na China há alguns anos, em Chongqing, uma das cidades chinesas com status de província que fica perto da província de Sichuan (aquela atingida pelo terremoto no ano passado). Ele contou que estava vindo a passeio encontrar a família e que de chegada já notou que Seul está diferente, cresceu. 

Foi o Chris que nos deu as primeiras dicas sobre como são os coreanos, como eles comportam. "Você notou que só nós aqui dentro do trem estamos falando e rindo alto? (juro que eu nao tava achando nada alto)  Aqui é assim, o povo é muito silencioso no espaço público. Apenas quando bebem demais que os coreanos ficam mais sonoros". E era verdade. Todo mundo no trem estava em silêncio. A maioria prestando atenção em programas de tv que podiam ser assistidos pelo celular, outros com computador, alguns simplesmente ouvindo música (que eles não nos forçavam a ouvir como acontece algumas vezes aqui na China e aí no Brasil). Ninguém parecia ter pressa, ninguém cortava a frente de ninguém. De certo isso é o que chamam de "zen", conceito que até então na China eu achava que era piada e que, na realidade, o povo era meio "zen noção".

 As duas horas de viagem (no fim já estávamos podres e emputecidas por conhecer, até então, o aeroporto e o metrô de Seul) serviram para bater papo, saber mais da cidade e da história do nosso melhor amigo coreano preferido. O pai do nosso amigo é, na realidade, norte-coreano, que veio para sul durante a Guerra da Coreia. Ele contou como é triste para o pai dele ter a família separada, ter parentes "trancados" no que um dia foi o mesmo país. Hoje, contou o Chris, não tem mais ninguém da família por lá. Os que restaram se foram com o tempo, mas ele confessou se emocionar ao ver cenas de irmãos que não se viam há 50 anos chorando e se abrançando na fronteira, aquela linha amarela que divide duas realidades completamente diferentes. 

Sair do metrô foi um grande alívio. Sério, ninguém merece. Na saída veio aquele frio na barriga que dá quando conhecemos um lugar completamente novo, onde somos, novamente, completamente analfabetos. Foi nesse momento "mais perdidas que bolacha em boca de velho" que fomos agraciadas com mais gentileza. Paramos para perguntar para que lado ir. Por uma dessas coincidências, o coreano falava inglês. Como bom cavalheiro (que agora eu acredito, são todos os coreanos) foi conosco até o endereço correto, mesmo sabendo que não havia perigo nenhum em três moças andarem na rua sozinhas depois da meia-noite.

Depois de achar tudo foi só correr para o abraço e tomar a primeira Cass (http://www.cass.co.kr/), cervejinha coreana bem honesta. Nisso vieram outras boas primeiras impressões: a cidade é cheia de bares e restaurantes que ficam abertos até, pelo menos, quatro da manhã, os cardápios não surgem em inglês, mas o povo tem paciência para tentar entender o que a gente quer, que em lugares de cerveja barata o preço fica em torno dos R$ 6, meio na média para bares brasileiros, mas bem caro em botecos chineses, as ruas são limpas, andar na rua, não importa o horário, sempre vai ser uma experiência segura e tranquila e que os coreanos tem tino para trocadilhos, para felicidade da Jana Jan (ver a rede de lojas de conveniência "Buy the Way" rendeu boas risadas).

Quer mais?

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