27 de ago. de 2009
Twitter, Fanfou, Jinwai, Taotao e a censura: o mundo dos microblogs na China
Passeando por aí sem sair do lugar
25 de ago. de 2009
40 mil yuans por um filho homem
Para lá de samba na China veia
O nome da festa já é um decreto, Enough of Samba. Não por não gostar, mas para mostrar que em terra tupiniquim guitarra também tem vez. Para botar um tempero, as moças vão mostrar novidades do rock n'roll, num passeio que vai das bandas chinesas P.K.14, Snapline, Tookoo e Carsick Cars às francesas Noir Désir, Les Innocents, M e Vive la Fête. Velharia também tem vez, porque AC/DC, Joy Division, The Clash, Beatles e Hendrix nunca fizeram mal a ninguém. Claro que quando três gaúchas se juntam, Cachorro Grande, Cascavelletes, TNT, Bandaliera, Ultramen, Damn Laser Vampires e mais uma renca de bandas do sul, vão acabar dando o ar da graça.
Ah, a criação do flyer da festa, que está circulando nas revistas, sites e bares de Beijing, também é dos pampas. A assinatura do layout é da Renata Dihl, guria pra lá de talentosa e de quem tenho o orgulho de dizer que sou amiga. A Rê está a frente do www.gaiacriacao.com.br.
60 anos com novo dicionário (sem a simplificação complicada)
Mais uma para comemorar os 60 anos da República Popular da China. Antes do dia 1 de outubro, o governo vai lançar a sexta edição do CiHai (词海), Mar de Palavras, publicação meio dicionário, meio enciclopédia, importantíssima por aqui e, principalmente, para o idioma chinês.
A nova edição terá cinco volumes e cerca de 22 milhões de caracteres chineses, um aumento de 10% em relação à última edição. Se eu tivesse pesquisado um pouquinho mais, não teria dado este furo sobre os 40 mil caracteres (http://comendodepalitinho.blogspot.com/2009/08/simplificacao-que-vai-ajudar-dificultar.html). Sério, 22 milhões de caracteres é muita coisa.
Numa rápida pesquisa com os chineses que eu conheço, deu para perceber que nem sendo chinês e estudando chinês a vida inteira dá para saber tudo isso. Quando eu perguntei: "você conhece os 22 milhões de caracteres que serão publicados no novo Cihai?" as respostas variam entre: "hahahahahaha", "nem metade" e "tudo isso?".
Parece que eliminaram da nova versão 7 mil termos que se tornaram obsoletos ou pouco utilizados. Juro que espero que nada do que eu sei esteja entre o que foi eliminado. Porém, muitas novas expressões foram acrescentadas, como os estádios construídos para a Olimpíada, o Ninho de Pássaro e o Cubo D'água, e outros termos legais, como o sistema de audiência pública, e médicos, como a Síndrome Respiratória Aguda Severa, SARS. Claro, o Conceito Científico de Desenvolvimento (http://portuguese.cri.cn/101/2007/09/03/1@74603.htm), nova diretriz do governo chinês, também está lá no dicionário-enciclopédia.
O CiHai vai estar disponível por módicos 1000 yuans (cerca de R$ 270) É, e não falaram nada da simplificação de caracteres no pai-dos-burros novo.
24 de ago. de 2009
Você também deixaria a China por causa da censura na internet?
21 de ago. de 2009
Um papinho às sextas
20 de ago. de 2009
A simplificação que vai ajudar a dificultar a minha vida
19 de ago. de 2009
Estudante paga meia... no aborto
Estudantes + sexo sem proteção + falta de educação sexual + ausência de métodos contraceptivos + país em que aborto é legal + carteira de estudante = DESCONTÃO.
Não sei qual destas variáveis me horrorizam mais. Vamos à tradução do texto do anúncio, feita primeiro para o inglês pela equipe do site Shanghaiist (http://mobile.shanghaiist.com/).
"Os estudantes são o nosso futuro, mas quando algo acontece a eles, quem irá protegê-los e ajudá-los? O Hospital Feminino Huaxi deu início ao Mês de Cuidado às Estudantes, durante o qual as garotas terão desconto de 50% em abortos se mostrarem o cartão estudantil. As cirurgias são as mais avançadas do mundo e não provocam problemas ao útero, não doem, são rápidas e você pode fazer qualquer coisa que desejar depois. Também não afetará seus estudos ou trabalho."
O anúncio chama a atenção para uma realidade que começa antes da gravidez indesejada. Começa no tabu que é o sexo por aqui e, em decorrência disso, no vasto desconhecimento sobre como se precaver. Imagine que num país regido pela lei do filho único a vinda de um bebê não programado é bem complicada. Você só terá direito a um, na maior parte dos casos, e se por um lado muitos adolescentes não fazem ideia sobre como prevenir uma criança, tem plena certeza de que buscam um futuro melhor e que, uma vez conquistada certa estabilidade financeira, então chegará a vez de dar à luz. Antes disso, recorramos à praticidade, ou seja, abortar.
O sexo entre os jovens ainda acende outras discussões - muitas pontuadas por um preconceito que perpassa as relações sociais. O professor de Guangzhou Zuo Bin, que conduziu uma pesquisa entre estudantes da província, descobriu que 17% dos adolescentes entre 15 e 18 anos já haviam tido experiências sexuais.
"A maioria dos estudantes que tiveram experiências têm pais divorciados ou muito ocupados", disse o professor. Aliás, para ele, as meninas acabam grávidas porque não sabem como se prevenir, mas querem mostrar seu afeto pelos caras. Os mocinhos que querem mostrar amor pelas meninas não contam?
Bueno, agora são férias. Talvez o anúncio de Chongqing tenha vindo em boa hora. Segundo a obstetra Song Luyin, o número de adolescentes procurando por abortos sempre aumenta durante as férias de verão, exatamente o período por que passamos agora na China, onde trabalha, o Hospital Feminino e Infantil de Guangdong.
Em reportagem publicada pelo jornal China Daily, a versão em inglês impressa da mídia estatal chinesa, em 30 de julho, a China realiza 13 milhões de abortos e vende 10 milhões de pílulas do dia seguinte todos os anos. O maior fator é o desconhecimento sobre métodos contraceptivos.
A ignorância entre os parceiros revela despropósitos como o fato de 70% dos entrevistados pelo Hospital 411 do Exército da Libertação Popular em Shanghai não saber que sexo pode transmitir o vírus HIV. E de menos de 30% saber como prevenir gravidez.
Segundo o governo, 62% dos abortos na China ocorrem entre mulheres dos 20 aos 29 anos, a maior parte solteiras. Agora, segundo Yu Dongyan, ginecologista do hospital de Shanghai, as estatísticas não são totalmente confiáveis, pois há muitos procedimentos feitos em clínicas clandestinas (imagino que mais devido a preços do que outra coisa, já que aqui é totalmente legal abortar).
***
Mais numerinhos
Um aborto na China custa cerca de 600 yuan, ou US$88.
Nascem 20 milhões de chineses por ano.
17 de ago. de 2009
Não entendi se Plastic City era pra rir ou pra chorar
Falando em pirataria, não acreditei quando o diretor do filme veio com o papo de que pirataria não é um problema para o cinema. Eu achei que este era um dos únicos aspectos que cineastas do mundo inteiro concordavam. Talvez não seja um problema para ele, que fez um filme com dinheiro público de três países.
Depois de tudo isso, nem ao final do filme pude assistir. Não, não foi porque não aguentei tanta coisa ruim. O final do filme não rodou, deu problema na exibição. Dizem as más línguas que é porque o diretor levou um dvd pirata. Não duvido, já que, afinal, pirataria não é um problema mesmo.
PS: Perdoem os links abertos ali. Aqui tá complicado para postar. Todas as camangas que eu usava não estão mais funcionando, não estou conseguindo editar no blogger. Provisoriamente as coisas ficam assim.
14 de ago. de 2009
Um mês com arte em destaque
13 de ago. de 2009
Festival da Cerveja também é coisa de chinês
Na real mesmo, nem só de Tsingtao vive um chinês, e diferente de outros festivais da cerveja, em Qingdao (青岛) você poderá beber mais de cem tipos diferentes de cerveja de tudo quanto é canto do mundo. Não é a toa que este é o maior festival do tipo por aqui, e recebe gente do mundo inteiro. Que acham de passar por lá para se acabar de tanto gritar “ganbei”?
Quando fui à Qingdao não era época de festival, o que de forma alguma atrapalha. Na Jiubajie (酒吧街), a rua dos bares, é SEMPRE festival da cerveja. A chinesada é mega receptiva (não sei se só por causa do goró), pode ter certeza que você será convidado a sentar em outras mesas, beberá com os chineses em sua homenagem e comerá um monte de frutos do mar. Qingdao é bem legal. Durante o dia, cure a ressaca na praia, ou se você é daquelas pessoas afortunadas que não sabe o que ressaca significa, vá passear na parte antiga da cidade, nas praias ou visite a Lao Shan, montanha que logo ali e vai te dar uma vista superbonita da cidade.
Mas voltando à 啤酒(pijiu - cerveja), eu tava agorinha dando uma espiadinha no site da Tsingtao em inglês e tem umas coisinhas legais. Não é um site superbacana ou cheio de conteúdo, mas dá pra ler uns textinhos sobre aspectos da cultura do país, como o horóscopo chinês, receitas do famoso (hein?) chef Martin Yan, um cantonês pelo visto bem conhecido fora. Quando você acessa a versão em chinês a coisa vira uma bagunça maior, mas tem mais informação. Claro, em mandarim.
Óbvio que depois de dar uma lida, vai correndo pro litoral prestigiar o festival. Para ser ainda mais atrativo, o evento vai rolar ali na beira da praia Shilaoren (石老人). Aí vai o restinho do serviço para quem puder (e tiver fígado para isso):
Quando: De 15 a 30 de agosto, das 9h às 22h,
Preço: 10 yuans ( das 09h às 15h), e 20 yuans (das 15h às 22h)
Onde: Qingdao, Cidade Internacional da Cerveja
Endereço: Xiang Gang Zhong Lu, 195.
Distrito de Laoshan – Praia Shi Lao Ren
Qingdao, Província de Shandong, China
青岛国际啤酒城, 香港中路195号, 中国山东省青岛市
12 de ago. de 2009
Acampando ou não, tem que ir à Muralha

Claro que a história não é bem assim e no fim das contas a culpa é do dinheiro. Hein? Mesmo com a proibição, existem empresas que estão oferecendo pacotes turísticos que incluem um pernoite em uma seção da Grande Muralha. O preço é até bem salgado, entre 400 e 500 yuans (já fiquei em hotéis 4 estrelas em algumas cidades do interior da China por menos de 300 yuans noite), o que daria hoje entre US$ 58 e US$ 73, valor que inclui só o saco de dormir. Você encararia?
De vez em quando surge algum convite para festas na Muralha, o que tudo indica que é proibido também. Eu nunca pude ir, apesar de achar que sempre haverá uma próxima vez. Sinceramente, achei a Grande Muralha (长城 - chang cheng) muito mais fascinante nos livros do que ao vivo. Não que não seja legal e embasbacante, de forma alguma, é lindo, expressivo, impressionante. Fui só uma vez visitar uma parte bem conservada, num dia 31 de dezembro, congelantemente frio, recém-chegada na China. Não sou da turma que ficou horas caminhando para cima e para baixo, nem fiz o que os chineses disseram que era importante: andar quilômetros para ter a verdadeira experiência. Eu batia o queixo de tanto frio, tava com tanta roupa que era bem difícil caminhar, cansei. Foi legal, mas não sinto necessidade nenhuma de caminhar muito por lá de novo, pelo menos não neste lugar que eu visitei. Vai saber, hiking não é comigo.
É claro que se um dia você vier à China, TEM que ver de perto esta grandiosa construção militar de mais de 8 mil quilômetros de extensão, que precisou da mão-de-obra de mais um milhão de chinesinhos (um quarto deles morreu no processo), e cuja construção começou 220 anos antes de Cristo. O que não significa que todos os tijolinhos que você verá são desta época. A muralha foi restaurada várias vezes durante a história e agora, claro, algumas partes são completamente voltadas ao turismo. E claro, agora você sabe que dá para acampar. Eu não pagaria para acampar, mas se você quiser entrar na onda da gringaida, prepare o bolso e agradeça por não entender mandarim, para não saber dos protestos chineses contra os laowais que não respeitam o grande símbolo da China.
Para ir à Muralha da China saindo de Beijing
Estas são algumas dicas para ir a alguns trechos mais conhecidos da Grande Muralha. Você também pode contratar uma agência para ir, ou chamar um táxi no hotel onde estiver hospedado. É bem possível que você tenha que barganhar o valor, que não vai sair por muito menos que 500 yuans pelo dia de passeio. Se você estiver com um grupo de três ou quatro pessoas, pode valer a pena. Mas se quiser se aventurar solito, toma nota:
Badalin (八大林长城)
Aberto das 6h30 às 18h30
Telefone: 69121737
Entrada: entre 40 e 45 yuans (dependendo da época do ano)
Como chegar: É a parte mais fácil da Grande Muralha para ir. Os ônibus turísticos saem todos os dias de Qianmen (前门) a partir das 8h. Por 90 yuans você compra no local as passagens de ida e volta e entrada para a Muralha. Uma dica é chegar bem cedo, por volta das 7h30, ou mais tarde, às 10h30. Os ônibus saem conforme forem enchendo até às 11h. Você também pode pegar o ônibus número 2, que sai da estação de trem de Beijing ( 北京站). Em Deshengmen (德胜门) é possível pegar a linha 919, que é uma linha comum. Para Badalin também é possível ir de trem. O trem, número 6427, sai da Estação Norte (北京北站) às 10h. Para voltar, ele sai da estação de Badalin às 14h30 e chega de volta em Beijing às 17h.
Mutianyu (慕田峪长城)
Aberto das 7h às 18h30
Entrada: 35 yuans, 17,50 yuans para estudantes
Telefone: 61626505 ou 61626022
Como chegar: Durante os finais de semnana e feriados, na estação de ônibus de Xuanwumen (宣武门) você vai pegar a linha turística número 6, que vai direto para Mutianyu. A passagem custa 30 yuans. Outra opção é pegar na ônibus na estação central de Dongzhimen (东直门), as linhas número 916 ou 936 até o Centro Internacional de Conferências de Huairou e trocar para o micro-ônibus que vai até Mutianyu. Cada uma das passagens vai custar cerca de 30 yuans.
Simatai (司马台长城)
Aberto das 8h às 17h
Entrada: 40 yuans, 20 yuans para estudantes
Telefone: 69031051
Como chegar: Aos finais de semana, 8h30, você pode pegar o ônibus que sai de Qianmen (前门), as passagens, ida e volta, saem por 95 yuans e o ônibus retorna de Simantai por volta das 15 horas. Outra opção é pegar o ônibus em Dongzhimen (东直门), a linha número 980 até a estação Minyu (não se assuste, você levará 1h30 para chegar lá e a passagem custa 15 yuans). Descendo na estação em Minyu, você pegará outro ônibus, este sim, até Simantai. O percurso levará mais uma hora e custará outros 15 yuans.
*Laowai - 老外 - estrangeiro
11 de ago. de 2009
O que esperar de uma produção sino-nipo-brasileira? (e a lenda de Yugong Yishan)
A exibição vai ser no no Yugong Yishan, clube muito legal, palco para bandas da cena underground de Beijing e também de projetos culturais de arte e cinema. Claro que a exibição não conta com nenhum tipo de aprovação especial do governo. Isso faz da ocasião ainda mais bacana. No Japão, o longa estreiou em março deste ano e no Brasil eu não tenho ideia.
Hoje quando fui pesquisar sobre o filme fiquei meio cabreira. Os comentários não são dos mais animadores. Lendo a sinopse do filme não dá para desconfiar muito:
"Plastic City" é um filme ambientado no tradicional bairro da Liberdade, em São Paulo. O filme tem como protagonista a imensa comunidade oriental que se estabeleceu na cidade ao longo dos anos de imigração e explora a relação entre o pai "Yuda" e o filho "Kirin".
Até aí tudo bem. Mas olhando mais por aí... olha só:
“(..)o filme conta a história de Kirin, um filho de japoneses que é adotado por um mafioso chinês quando seus pais são barbaramente assassinados na Floresta Amazônica. O velho Yuda é um contrabandista decadente. Envolvidos em seus negócios escusos, estão gente simples e políticos poderosos. Traído por peixes-grandes e rivalizando com outros marginais, Kirin entra no conflito para defender o pai de criação.”
Meio estranho, né? Mas vou dar um crédito ao filme e vou inclusive resistir à tentação de assistí-lo antes, online, dica da Jana. Claro, se você quiser, olha aqui, mas não me conta nada. Na segunda-feira que vem eu volto para contar como foi.
A lenda chinesa Yugong Yishan (愚公移山)
Há muito tempo atrás, havia uma grande montanha, chamada Tai Ying, e um homem chamdo Yu. A montanha separava Yu do povoado mais próximo, fazendo com que, todos os dias, Yu precisasse caminhar muitos quilômetros a mais contornando a montanha para chegar ao povoado.
Um belo dia Yu decidiu que ia tirar a montanha Tai Ying dali.
Ele chegou em casa e chamou o filho e o neto e disse: "Eu vou mover Tai Ying". A família inteira comemorava, quando o filho perguntou onde Yu pretendia colocar a montanha. "Eu vou jogá-la no mar". A família comemorou ainda mais e prometeu ajudar na empreitada.
Um dia, um homem no povoado riu de Yu, dizendo que seu sonho era ingênuo, que ele era um velho e que a Tai-Ying era "monstruosa". O nosso personagem sorriu e disse: "Você está certo, mas sua visão é muito limitada. Eu tenho filhos que terão filhos, que terão filhos. Conforme o tempo passar eu ficarei forte, enquanto a montanha enfraquecerá. Tai-Ying será movida"
Xinjiang do coração da... Kendre
A Expo Shanghai 2010 pode, é?
10 de ago. de 2009
Urumqi, um mês atrás
O governo chinês sustenta que a maioria dos mortos é de origem han, a maioria étnica da China. Rebiya fala que mais de 10 mil uigures teriam desaparecido em uma só noite e que o governo chinês os estaria prendendo, e matando, sem divulgar.
A mídia chinesa, em chinês, faz questão de afirmar é que preciso manter o controle na região e que agora está tudo bem, os culpados estariam presos e serão julgados em breve. Pelo que já conversei por aqui, o povo está acreditando que agora não mais nada com o que se preocupar.
Muito já foi dito e escrito desde que a explosão de violência ocorreu.
Mas hoje o que eu quero é contar um pouco do que eu vi indo para lá.
No dia 10 de julho, apenas cinco dias depois do conflito, pegamos um avião rumo à Urumqi. Fomos encontrar com amigos jornalistas que estavam lá para ver o que estava acontecendo.
Tentar embarcar para uma região de conflito na China tem tudo para ser complicado, por isso achamos que poderiam nos impedir, ou pedir para checar as informações dos nossos passaportes, tentando ver de onde (e porquê) vem nosso visto. Mas não, foi muito mais tranquilo do que eu imaginei. Diferente do Tibet, não é necessária nenhuma autorização especial para ir à Região Autonôma Uigur de Xinjiang. No aeroporto, o voo marcado para as 21h40 havia sido adiantado para as 21h. Nunca vi, ou ouvi falar, de voo que foi adiantado, era no mínimo estranho. Mas logo depois descobrimos que o voo anterior não tinha saído e eles resolveram colocar todo mundo no mesmo. Ainda bem que não estávamos atrasadas.
No voo já é possível ver as diferenças: muitas mulheres usando véus, cobrindo a cabeça e algumas até o rosto, os olhos arrendondados, a cor da pele diferente. No avião conheci um senhor cazaque, que estava com a família indo para Urumqi. Ele achou o que tinha acontecido um domingo antes muito triste, mas disse que precisava ir para lá. Apesar de tudo, a coisa mais curiosa que ouvi dele foi a escalação completa da seleção brasileira de futebol da década de 70. Meu amigo cazaque gostou de saber que eu era brasileira e tentou impressionar. No final, fora isso, antes mesmo de embarcarmos, ele me disse: a cidade é boa, mas tome cuidado.
No caminho até o hotel a impressão era de que estávamos em uma cidade fantasma. Não havia gente na rua, nem carros circulando. Além de nós, só a polícia quebrava a falta de movimentação.
Fomos ao hotel onde era o QG dos jornalistas que foram cobrir o conflito. Internet, só em uma sala e via cabo. Ninguém parecia muito contente com a velocidade da transmissão de dados. Todos estavam bastante cansados. A sexta-feira havia sido particularmente movimentada, pois o governo tinha ordenado o fechamento das mesquitas e os muçulmanos começaram a se aglomerar na frente dos prédios para fazer as preces. Deu confusão, enfrentamento com a polícia, até que finalmente autorizaram a entrada em uma delas. Claro, na versão oficial, a mídia chinesa não falou nada sobre confusão, mas que as pessoas “não foram às mesquistas porque preferiram fazer as preces de casa”. Ahan, sei. A jornalistada que estava lá também sabia e corria para tentar enviar o que desse sobre o assunto. O máximo de forças foi para experimentar a Sinkiang, cerveja preta local.
A primeira coisa que vi ao sair na porta do hotel no sábado de manhã, que ficava em frente à Praça do Povo, local onde uma semana antes começou a manifestação pacífica de um grupo uigur, foi um senhor idoso discutindo com um soldado que fazia o isolamento da praça, indignado por não poder usar a calçada, que fazia parte da área isolada. Fora o forte policiamento naquele sábado, a vida parecia estar voltando ao normal na capital, as pessoas esperavam ônibus, a lojas estavam abertas e comportamentos vistos na semana, como chineses han saindo na rua armados com paus com medo de ataques, não pareciam se repetir. Entretanto, o ambiente também não era de tranquilidade.
Resolvemos ir ao bairro uigur. A entrada da Hepinnanlu, uma das principais ruas do bairro, estava fechada. Em cada esquina, dois ou três soldados distribuíam panfletos escritos em chinês e uigur, que usa o alfabeto árabe, pedindo paz entre as etnias. Carros de som transitavam pela cidade, também com mensagens nos dois idiomas, pedindo harmonia entre as etnias. A sociedade harmoniosa, sempre ela. Apesar de não ter muita gente na rua, os restaurantes e lojas estavam abertos e víamos tanto hans, quanto uigures e huis (etnia chinesa muçulmana, diferente dos uigures). Quando estávamos nos aproximando mais da parte mais uigur do bairro, uma senhora han nos parou e disse para não irmos para lá, porque era muito perigoso. Ela não acreditou quando ignoramos o conselho.
A arquitetura dos prédios é bem diferente do padrão “caixote comunista” que vemos em Beijing. O colorido das roupas, dos véus, das sacadas é encantador. E ao contrário do que advertiu a chinesa antes, não sentimos medo, ou ameaçados em nenhum momento. Nos mercados de rua as pessoas sorriam para as fotos e tentavam conversar. No resto da China, quando vê algum estrangeiro, o chinês tenta falar inglês, pensando que este é o idioma em que poderá ser compreendido. Em Urumqi, depois de ver que não falávamos uigur, a primeira reação era tentar falar o mandarim padrão conosco, o que foi bem curioso.
No mercado, as especialidades do lugar: muito melão, kaobaozi e churrasquinho de carne de ovelha. Tudo feito e vendido ali na rua, com verdadeiros açougues a céu aberto. Entramos em uma parte que parecia muito com os hutongs aqui de Beijing, porém com características muçulmanas. Lá sim, se vendia de tudo, de caneta a sapato usado, em banquinhas no chão das ruas estreitas. As lojas com eletrônicos ofereciam televisões preto e branco de 14 polegadas. O bairro uigur, onde estão as maiores mesquitas e concentração de pessoas da etnia, é bem pobre. Em alguns momentos me senti que tinha ido parar dentro das imagens de Kabul pós-guerra, as mulheres cobertas, muita pobreza e muita sujeira, o chão das casas de uma parte onde passamos, que eram meio casas meio comércio, era batido, sem nenhum tipo de revestimento.
Dentro deste labirinto, principalmente, vimos muitas crianças, muito mais do que se vê normalmente nas cidades grandes. Como pertencem a uma minoria étnica, os uigures, bem como as outras 54 minorias, são autorizados pela lei a ter o segundo filho. Crianças morenas, olhos redondos, puxados, azuis, verdes, castanhos, cabelos ruivos, loiros, pretos. Apesar da pobreza, todas sorriam e brincavam, se divertiam no seu mundinho.
Saindo desse mundo, voltando às avenidas, a tranquilidade é um pouco abandonada. A polícia já está por todos os lados e não gosta muito de ver ninguém tirando fotos. Devido à situação precária, o melhor é obedecer. E andar para o outro lado. Fomos ao Bazar Internacional de Urumqi, ponto de comércio tradicional no bairro, onde era possível ver algumas marcas do conflito, como as janelas das lojas e portas quebradas. Os nossos amigos, mesmo tendo chegado no local no meio da semana, não viram os ônibus e carros incendiados, que apareciam nas fotos da mídia chinesa. O governo foi rápido em promover a limpeza. As lojas fechadas, o exército no pátio do bazar e algumas janelas quebradas foi o máximo que vimos da violência que havia eclodido no domingo anterior.
Apesar do ambiente amistoso, sabíamos que estávamos longe de ser presenciando uma situação normal. Não haviam chineses han na rua. Como aquela senhora que nos advertiu no início, os outros também estavam com medo e deviam achar perigoso demais se aventurar por lá. Os nossos amigos visitaram os hospitais que estavam atendendo os feridos do conflito. As cenas, descreveram, eram chocantes. Pessoas completamente desfiguradas, cujo único pecado naquele momento era estar no lugar errado, na hora errada.
Já em Beijing, duas semanas depois de voltar de Urumqi, encontramos um cara uigur. Começamos a conversar, e a falar inclusive sobre o conflito e as ações tomadas pelo governo chinês. Ao escutar que éramos jornalistas, o rosto dele mudou. O olhar era de pânico, medo. Ele tinha medo que usássemos o nome ou qualquer outra referência sobre ele. Pessoas da família desse cara haviam sido presas, mesmo clamando inocência. Amigos estavam sumindo. Segundo o cara, todos os uigures correm risco e os que comentarem o assunto, mais ainda. Exatamente o que clamou Rebiya Kadeer na entrevista concedida quando ela esteve no Japão no final do mês de julho.
Para finalizar, deixo vocês com dois vídeos gravados no período em que eu estive lá e mostram um pouco do que eu vi e desse sentimento de que, no fim das contas, nada parece justo:
Tensão étnica em Xinjiang from niels dartabad on Vimeo.
Tranquilidade vigiada from Janaína Camara da Silveira on Vimeo.
Um pouco do que andaram escrevendo por aí
- Uma história com vítimas dos lados:
- Mais acusações da família de Rebiya
- Governo confirma a morte de 12 pessoas envolvidas no conflito
- Jackie Chan estava certo quando disse que os chineses precisam ser controlados?
- Notícia sobre o suposto estupro em Guangdong, motivo da manifestação que acontecia na Praça do Povo no dia conflito
- Artigo do Wall Street Journal sobre os protestos
- O New York Times criou um espaço de debate qualificado sobre o assunto
9 de ago. de 2009
Só esperando você?
7 de ago. de 2009
O Super Baozi
Super Baozi vs Sushi man from sun haipeng on Vimeo.
China Mobile, você conhece?
5 de ago. de 2009
Um site para entender o que eles tão pensando (ou pelo menos vendo na rede)

Mesmo não dando espaço para conteúdo político, Fauna, criadora do site, prefere se preservar e não falar muito sobre ela mesma. Uma das fortes críticas que ela sofre de outros chineses é que mostrando o que acontece, ela faz com que o povo da China "perca a face" diante dos estrangeiros. "Perder a face", ou mianzi 面子, é um conceito extremamente chinês, herança confucionista muito presente na cultura e nas relações que, resumindo bastante, é o cuidado extremo com a reputação, familiar e pessoal, que deve ser mantida a qualquer custo. Por isso esta chinesinha de Shanghai prefere não dar referências sobre ela, para que a vida offline não sofra os ataques em mandarim que ela sobre online. "É só para me preservar um pouco. Tento evitar ao máximo as pessoas que fazem este tipo de crítica. É ridículo", diz ela, sem perder nem a face, nem o bom humor.
No início ela achava que dividir em inglês o que se comentava em chinês seria uma maneira bacana de praticar o idioma. Um ano depois, ela comemora as mais de 270 mil visitas por mês e os quase 4 mil assinantes. "Isto mostra que começamos do zero para nos tornarmos um conhecido site em inglês sobre a China", conclui. A maior parte do público do site acessa, em primeiro lugar, dos Estados Unidos, seguido por China, Canadá, Reino Unido e Cingapura. Mas mesmo o Brasil aparece nesta lista, junto com dezenas de outros países.
Mas vamos falar sobre o site, que é bem legal. O chinaSMACK não se limita a simplesmente traduzir histórias que estão sendo vistas e discutidas pelos chineses. A Fauna se puxa e publica também comentários dos internautas chineses sobre o assunto, pra que os leitores tenham uma ideia melhor de como os internautas daqui pensam e reagem. "Isso ajuda os estrangeiros a compreender uma parte da China. Dá para ver que tem diferenças, mas sociedade moderna chinesa e os estrangeiros são mais iguais do que diferentes", opina.
As semelhanças são perceptíveis. Nos vídeos "virais", fotos que se espalham rapidamente, dá para ver que, afinal, os gostos não são mesmo diferentes. Nem quando o assunto é sério. Mesmo tentando não colocar conteúdo diretamente político ou que pise nos calos do governo, através dos comentários traduzidos dá para perceber a ironia e a indignação com a censura na rede. Quem pensa que o povo chinês é simplesmente "cordeirinho" do governo ou aceita tudo sem contestar, consegue mudar de ideia quando lê as brincadeiras sobre a "sociedade harmoniosa". Mesmo que não haja um movimento organizado, o descontentamento está ali expresso, nem que seja nas entrelinhas.
Outra coisa bacana é o glossário, que também dá uma mão para aproximar chineses e estrangeiros. Lá a Fauna reuniu termos, expressões, siglas e gírias que são usadas pelos internautas chineses. Com isso, dá para compreender melhor, ver o que é engraço ou ofensivo no mandarim utilizado na internet. Quem está aqui na China, tem a vida offline também facilitada, já que muito da linguagem oral, principalmente mais jovem, está bem distante dos dicionários.
O projeto para este ano é crescer. A Fauna, mesmo com outro emprego, dispõe de três a seis horas por dia traduzindo notícias, vídeos, comentários e atualizando o chinaSMACK. "Seria ótimo ter mais colaboradores. O ideal seria poder pagar as pessoas para fazer isto, mas o site não gera muita renda", conta ela. Por enquanto não tem mais nenhum colaborador fixo, mas ela já contou com a ajuda de outros chineses e de estrangeiros com grande conhecimento de mandarim. Se alguém aí quiser colaborar, ou conhece alguém que queira, escreve para a Fauna. A única coisa que ela pede é que sempre sejam incluídos os comentários dos internautas chineses sobre o assunto, que é uma parte importante do trabalho do site.
Jiong Jiong!
囧囧 Este caractere supersimples não andava mais nem sendo usado na China. Com a popularização da internet, ele voltou renovado e caiu no gosto dos internautas, que começaram a ver nele praticamente um emoticon para expressar admiração. "囧囧 representa bem o chinaSMACK. E é engraçadinho", completa Fauna com bom humor.