19 de ago. de 2009

Estudante paga meia... no aborto

Primeiro, dê um desconto. A cultura chinesa não prevê qualquer culpa em relação ao aborto. Depois, ainda assim fique de boca aberta, como eu fiquei. Um hospital de Chongqing, que se intitula a maior cidade do mundo, com uma massa humana que gira em torno de 31,5 milhões de habitantes à beira do Rio Yangtze, lançou um anúncio um tanto peculiar. Abortos com 50% de desconto para quem apresentar carteirinha de estudante.

Estudantes + sexo sem proteção + falta de educação sexual + ausência de métodos contraceptivos + país em que aborto é legal + carteira de estudante = DESCONTÃO.

Não sei qual destas variáveis me horrorizam mais. Vamos à tradução do texto do anúncio, feita primeiro para o inglês pela equipe do site Shanghaiist (http://mobile.shanghaiist.com/).

"Os estudantes são o nosso futuro, mas quando algo acontece a eles, quem irá protegê-los e ajudá-los? O Hospital Feminino Huaxi deu início ao Mês de Cuidado às Estudantes, durante o qual as garotas terão desconto de 50% em abortos se mostrarem o cartão estudantil. As cirurgias são as mais avançadas do mundo e não provocam problemas ao útero, não doem, são rápidas e você pode fazer qualquer coisa que desejar depois. Também não afetará seus estudos ou trabalho."

O anúncio chama a atenção para uma realidade que começa antes da gravidez indesejada. Começa no tabu que é o sexo por aqui e, em decorrência disso, no vasto desconhecimento sobre como se precaver. Imagine que num país regido pela lei do filho único a vinda de um bebê não programado é bem complicada. Você só terá direito a um, na maior parte dos casos, e se por um lado muitos adolescentes não fazem ideia sobre como prevenir uma criança, tem plena certeza de que buscam um futuro melhor e que, uma vez conquistada certa estabilidade financeira, então chegará a vez de dar à luz. Antes disso, recorramos à praticidade, ou seja, abortar.

O sexo entre os jovens ainda acende outras discussões - muitas pontuadas por um preconceito que perpassa as relações sociais. O professor de Guangzhou Zuo Bin, que conduziu uma pesquisa entre estudantes da província, descobriu que 17% dos adolescentes entre 15 e 18 anos já haviam tido experiências sexuais.

"A maioria dos estudantes que tiveram experiências têm pais divorciados ou muito ocupados", disse o professor. Aliás, para ele, as meninas acabam grávidas porque não sabem como se prevenir, mas querem mostrar seu afeto pelos caras. Os mocinhos que querem mostrar amor pelas meninas não contam?

Bueno, agora são férias. Talvez o anúncio de Chongqing tenha vindo em boa hora. Segundo a obstetra Song Luyin, o número de adolescentes procurando por abortos sempre aumenta durante as férias de verão, exatamente o período por que passamos agora na China, onde trabalha, o Hospital Feminino e Infantil de Guangdong.

Em reportagem publicada pelo jornal China Daily, a versão em inglês impressa da mídia estatal chinesa, em 30 de julho, a China realiza 13 milhões de abortos e vende 10 milhões de pílulas do dia seguinte todos os anos. O maior fator é o desconhecimento sobre métodos contraceptivos.

A ignorância entre os parceiros revela despropósitos como o fato de 70% dos entrevistados pelo Hospital 411 do Exército da Libertação Popular em Shanghai não saber que sexo pode transmitir o vírus HIV. E de menos de 30% saber como prevenir gravidez.

Segundo o governo, 62% dos abortos na China ocorrem entre mulheres dos 20 aos 29 anos, a maior parte solteiras. Agora, segundo Yu Dongyan, ginecologista do hospital de Shanghai, as estatísticas não são totalmente confiáveis, pois há muitos procedimentos feitos em clínicas clandestinas (imagino que mais devido a preços do que outra coisa, já que aqui é totalmente legal abortar).

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Mais numerinhos

Um aborto na China custa cerca de 600 yuan, ou US$88.

Nascem 20 milhões de chineses por ano.

Texto da Jana Jan

2 comentários:

  1. @.@! Caramba, eu sabia do aborto na China e talz, mas essa notícia é um pouco chocante. Nem tanto pelo desapego a possível vida do feto, mas com a naturalidade do assunto. Muito boa a postagem/reportagem!

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  2. Bom... aqui mesmo com toda campanha, ainda se tem muitos problemas e iniciação sexual mais cedo...

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