27 de ago. de 2009

Twitter, Fanfou, Jinwai, Taotao e a censura: o mundo dos microblogs na China

Eu tuíto, tu tuítas, ele tuíta. Bem, na China eles também tuítam. Quer usar o serviço daqui? Então é bom saber umas coisinhas. Aqui, os microblogs são chamados 叨客 ("dao ke"), uma combinação entre os caracteres que indicam conversa e blogs. Após o surgimento do Twitter, clones do serviço começaram a aparecer e a microblogagem acabou se popularizando pelas imitações. Fanfou, JinWai e TaoTao desbancam a ferramenta mais popular no resto do mundo. 

O primeiro motivo é que o Twitter, apesar de permitir as postagens em chinês, não possui a opção do idioma nas configurações, o que aqui é motivo suficiente para perder muitos usuários. Hoje o segundo motivo é também pertinente: o Twitter está bloqueado na China, junto com os irmãos genéricos. Hoje microblogagem é atividade clandestina, tal qual as missas dos católicos que seguem o Vaticano ou a Falun Gong (http://en.wikipedia.org/wiki/Falun_gong).

Tem mais uma aspecto dos clones que chama atenção: a maioria dos genéricos permite a integração de mensageiros, como msn, gtalk e QQ (o mais popular do país), ao serviço. Para a massa jovem que acessa a internet na China, segundo pesquisa da Netpop Research 73% dos internautas chineses tem de 13 a 34 anos, faz diferença.  

Uma outra pesquisa, realizada pela Sysomos (http://www.sysomos.com/insidetwitter/), divulgada em junho, traça um perfil sobre os usuários do Twitter e mostra que apenas 0,49% das 11,5 milhões de contas analisadas são da China. O dado deixa o gigante asiático em 17º lugar na lista de países que mais usam esta rede social.

Para Michael Anti (安替), jornalista e pesquisador chinês da área de internet, que teve o blog deletado na China pela Microsoft a pedido do governo por causa do conteúdo subversivo, o Twitter e a microblogagem ainda são tão recentes no país que até mesmo a censura precisa de um tempo para pensar melhor sobre o assunto. Claro, para a censura está mais fácil pensar com tudo devidamente bloqueado. Mas Anti está lá, conhecido como @mranti (www.twitter.com/mranti), tuitando diariamente sobre assuntos que não alegram o governo central chinês.

De fato, o serviço pode não ser tão recente, mas a popularização mundial é. O número de usuários cresce em grandes proporções em todo o mundo e muitos ainda estão descobrindo o serviço. Segundo a mesma pesquisa da Sysomos, 72,5% do total de usuários do Twitter se cadastrou nos cinco primeiros meses de 2009 e apenas 5% do total é responsável por 75% de toda a atividade do sistema.

Anti lembrou um aspecto da microblogagem na China que deve ser levado em conta. Tuitar em chinês pode ser mais fácil e mais completo do que em línguas como inglês e português, já que o uso dos caracteres chineses permite um volume muito maior de informação. "Graças à alta intensidade da informação proporcionada pelo idioma, 140 caracteres chineses podem responder às cinco perguntas fundamentais do lide jornalístico (http://pt.wikipedia.org/wiki/Lead), por exemplo", disse. O lado negativo ficaria por conta do baixo aproveitamento que os internautas chineses fazem da ferramenta e da censura, que contribui bastante para que o serviço não seja tão popular.
Quem são os irmãos chineses:

1. Fanfou.com (http://www.fanfou.com/)

Foi o primeiro dos microblogs chineses a bailar, depois do conflito em Xinjiang, no dia 5 de julho. Antes, de 3 a 6 de julho, ficou fora do ar por causa do aniversário de 20 anos de um certo massacre em uma certa praça. Hoje é o maior e mais popular da China continental. O layout e a funcionalidade do site são bem parecidas com o do Twitter nos mínimos detalhes: você pode atualizar o FanFou a partir da frase "o que está fazendo" em menos de 140 caracteres, ele suporta e atualiza recebendo notificações via Gtalk, MSN, QQ, celulares e internet e apresenta as atualizações das pessoas que você segue pelo mesmo estilo de timeline. Sério, bem parecido. Wang Xing é fundador e CEO do FanFou. 

2. JiWai.de (http://jiwai.de/)

JiWai.de foi o primeiro irmão chinês do Twitter. Permite também especificar quais usuários você pretende seguir para que as mensagens possam ser lidas em um único local. Assim como o Twitter, o Jiwai suporta atualizações através de SMS e Gtalk. Para atender à demanda dos usuários chineses, a ferramenta também suporta atualizações de outros mensageiros, como o QQ. Li Zhuohuan é fundador e CEO da JiWai.de. A capa do site indica que ele está em manutenção, mas que volta logo. Nem Mao sabe quanto tempo vai levar este "logo".


O QQ é o mensageiro mais popular na China. Embora a empresa criadora tenha percebido o valor dos microblogs e lançado o TaoTao, este não é tão funcional quanto os concorrentes no país. Diferente do FanFou, o TaoTao aceita apenas atualizações via QQ e web. Porém, hoje ele é um dos poucos não censurados pelo governo, o que acaba mantendo mais usuários, já que muita gente tem preguiça de ter que procurar um meio, digamos, alternativo, para postar. 

Outros microblogs na China (que um dia, quem sabe, serão desbloqueados)
Komoo - http://komoo.cn - a página inicial é praticamente igual à antiga página do Twitter. Não é muito popular, mas não está bloqueado.

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